Crítica - Fronteiras
Sérgio Maggio Da equipe do Correio
Em duelo que cresce vertiginosamente quando os dois contracenam, os intérpretes ficam à altura da complexidade de alegorias associadas aos personagens da dramaturgia de Santiago Serrano. Sérgio Fidalgo, sobretudo, aproveita cada segundo de pulsão de Pascual. A interpretação (corpo/voz/composição) consegue agrega-se ao ritmo natural da narrativa de tal forma que fica una e indissociável da matriz dramatúrgica. É, sem dúvida, um dos melhores trabalhos desse ator, marcado em Brasília pela participação mais coadjuvante. Com personagem que se desmonta ao longo do fluxo narrativo, Chico Sant’Anna estabelece momentos de forte dramaticidade no jogo com Sérgio, mas apresenta certa artificialidade para conduzir o difícil processo de transmutação de Tonito, que começa exageradamente cínico nos primeiros minutos, para depois brincar como menino. A afinação natural da temporada deve ajustar o que parece ser uma sintonia fina no potente duelo que os atores constroem, principalmente, na segunda jornada (a da narrativa compartilhada dos atores sobre amores femininos), ápice do texto. Candidato a repetir o sucesso nacional de Dinossauros, também de Santiago Serrano/Guilherme Reis, Fronteiras provoca o espectador em seqüências de intenções detalhadas (olhares, gestos), num trabalho de direção de cena orientado por Dimer Monteiro. Na afinação, Fronteiras deve uma sonoplastia mais trabalhada às imagens sugeridas pela dramaturgia, que poderiam ressaltar ainda mais momentos memoráveis como a passagem de revoada de patos e a luta contra o vento numa remissão ao clássico Dom Quixote. Ao final, a montagem mexe, inquieta e modifica sem precisar reproduzir o hostil território das fronteiras, sejam geográficas, sejam interpessoais. (SM)
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