Críticas
Dinossauros
de Santiago Serrano
Cena Promoções Culturais
Festival Internacional de Rio Preto
Festival Internacional de Londrinas
1º Festival Brasilero de Teatro de Itajaí
Dinossauros 10/11/2005 - 20/11/2005
O mais
novo espaço cultural de Brasília será inaugurado com espetáculo que
inicia ciclo de novas dramaturgias latino-americanas:
Madrugada. - A solidão. A partir deste foco, o autor argentino Santiago Serrano cria situações inusitadas e muito poéticas no texto Dinossauros, escolhido pelo diretor e produtor Guilherme Reis para inaugurar o Espaço Cena, o mais novo espaço cultural da cidade, que abre suas portas no próximo dia 10 de novembro. Em cena estão os atores Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi, dando início a um ciclo que pretende apresentar peças curtas da nova dramaturgia latino-americana. Dinossauros poderá ser visto até o dia 20 de novembro, de quinta a sábado, às 21 horas, e domingos, às 20 horas. Dinossauros é um espetáculo que fala da sensibilidade e da busca da felicidade, num mundo cada vez mais opressor. Sentimentos como a ingenuidade, a ternura, a verdade caracterizam os personagens Silvina e Nicolás, desenhando-os como verdadeiros seres em extinção, como dinossauros que, para não desaparecer, precisam inventar um futuro possível. Silvina e Nicolás lutam pelo direito de escapar da rotina que comprime a alma, pelo direito de escolher ser feliz, de voltar a se apaixonar, de ser criança de novo, de abraçar a vida com o coração e os dentes, pelo direito de voltar a ter esperança. E estes simples direitos fazem com que os mais estranhos deste mundo, os dinossauros confundidos e extraviados nas ruas das grandes cidades, sacudam o pó dos tempos e voltem a ganhar vida, apostando, desta vez, em ser um pouquinho mais felizes. Afinal, nunca é tarde. Os dois se relacionam a partir de jogos e confissões, apresentados com humor e emoção. Nesta obra, o autor Santiago Serrano busca sua poética na simplicidade da história e na linguagem terna e humana. A peça estreou em 1991, na Argentina, obtendo o prêmio de Melhor Obra Original e menção de Melhor Espetáculo no festival organizado pelo Centro Cultural General San Martín, de Buenos Aires. Em 2000, Dinossauros foi encenada no Canadá e nos Estados Unidos. Também recebeu montagens em Montevidéo, no Uruguai, e em Lima, no Peru.
O
espetáculo inaugura um projeto de encenação de textos curtos de
dramaturgos contemporâneos da América Latina. Durante os meses de
novembro e dezembro, serão apresentados, no Espaço Cena, textos com
tratamento simples e despojado. São encenações calcadas no trabalho do
ator e na dramaturgia, com cenários e figurinos singelos. Ficha Técnica Autor - Santiago Serrano Direção e iluminação - Guilherme Reis Elenco - Carmem Moretzsohn e Murilo Grossi
Serviço
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DINOSSAUROS, ESPETÁCULO QUE INAUGURA O PALCO DO ESPAÇO CENA CONTEMPORÂNEA, ENALTECE A DRAMATURGIA DO ARGENTINO SANTIAGO SERRANO E O TRABALHO DE MURILO GROSSI E CARMEM MORETZSOHN.
CADERNO C CORREIOBRAZILIENSE • Brasília, quinta-feira, 10 de novembro de 2005 • 5 SÉRGIO MAGGIO DA EQUIPE DO CORREIO
Um banquinho, dois atores e um texto erguido com palavras simples. É assim, bem intimista, que o Espaço Cena Contemporânea inaugura seu palco. No centro, a dramaturgia latino-americana. Feita aqui perto, na Argentina, mas desconhecida deste país que fala português. A peça Dinossauros estréia hoje, rodeada dessa atmosfera de novidades. A possibilidade de conhecer a obra de Santiago Serrano; o anúncio de um espaço que promete difundir as artes cênicas na cidade; a volta aos palcos do ator Murilo Grossi; e o seu encontro afetivo com o diretor Guilherme Reis e a atriz Carmem Moretzsohn. Todos bons motivos acolhem a peça, que fica em cartaz até o dia 20, com ingressos a R$ 10. O clima que envolve Dinossauros é de “faça você mesmo”. Às vésperas da estréia, os atores passavam o texto, ao mesmo tempo em que o diretor resolvia os ajustes finais do pequeno teatro de 50 lugares. A carpintaria técnica (iluminação, cenário e figurino) também foi construída pelo grupo. “A idéia é dar o primeiro passo, com a sensação de que estamos começando um processo de trabalho”, conta Guilherme Reis. Esse, aliás, é o tom da peça. Teatro na essência, cru, sem aparatos tecnológicos. Os atores e o texto. Chamado irresistível A proposta atraiu o ator Murilo Grossi, que não pisava nos palcos desde a temporada de Cartas de um sedutor (2000). Fisgado pelo cinema (ele está em dois filmes no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deste ano) e até pelas telenovelas (O clone, de Glória Perez), o intérprete não resistiu ao chamado de Guilherme Reis, seu primeiro diretor. “Estava com saudade física do teatro e não queria voltar em produção espetacular”, confessa. A volta representa reencontro também com a atriz Carmem Moretzsohn, parceira da geração que movimentou a cena teatral nos anos 1980. “Fiz muito par romântico com ele”, confessa. Os dois trabalharam juntos em espetáculos como Eu matei Dulcina, de Alexandre Ribondi. Agora, estão lado a lado num texto que exige naturalidade e concentração para dizer cada palavra. Em Dinossauros, Murilo é Nicolás; Carmem, Silvina. Tragados pela solidão, os dois se conhecem num banco de espera, que pode ser de ponto de ônibus, estação de metrô ou trem. Cena a cena, esboçam a possibilidade de futuro até então inexistente. “Ficamos enternecidos com o texto”, conta Murilo Grossi. “É lindo, uma dramaturgia de sutilezas”, completa Carmem. A escolha do texto foi determinada ao acaso. Internauta profissional, Guilherme Reis navegou por bibliotecas virtuais e encontrou sites com textos de dramaturgos latinos, disponíveis para consulta e impressão. Baixou aleatoriamente alguns e todos começaram a leitura. “Quando a gente chegou em Dinossauros, a identificação foi imediata”, lembra. “O contato com o autor foi impressionante. Contamos qual era a nossa intenção, nosso projeto, e a resposta dele foi linda. Disse que toda a sua obra estava à disposição”, acrescenta Carmem. A peça estreou na Argentina, em 1991, e já foi encenada no Canadá, Estados Unidos, Uruguai e Peru. Por ela, o autor ganhou prêmios pelo texto original. Depois de Dinossauros, o Espaço Cena Contemporânea segue com o ciclo de novas dramaturgias latino-americanas. A idéia não é criar uma companhia, mas agregar artistas que queiram encenar desconhecidos. “Não queremos experimentalismo. Buscamos o fundamento do teatro, texto e ator”, adianta Guilherme, que planeja fazer do espaço extensão do festival Cena Contemporânea.
Encontro marcado Sérgio Maggio
O texto apaixonante cresce com a direção generosa de Guilherme Reis, que o entrega de presente ao trabalho dos atores. O diretor também mantém o texto no ritmo da sutileza, evitando cair em excessos. Há duas cenas (quando a personagem Silvina dança e quando o casal brinca na rua) em que o humor poderia beirar o rasgado. Em cena, Murilo Grossi parece gigante nos primeiros momentos. A sensação é de que vai engolir Carmem Moretzsohn. Mas o equilíbrio vem de imediato. A personagem Silvina é determinante para a condução da trama – em muitos momentos, aliás, ela a conduz. Carmem se aproveita bem dessas reviravoltas e marca a personagem, num bate-bola de primeira entre os dois atores. Juntos, levam a platéia ao trânsito de emoções, da mais singela à pungente. (SM)
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Outro teatro é possível
Tenho um amigo que um dia me perguntou, muito injuriado, por quê dessa mania do teatro hoje de querer re-inventar a pólvora. Ele andava meio incomodado com os exageros da improvisação e do experimentalismo, e com a incansável (e, de acordo com ele, bastante cansativa) mania do teatro contemporâneo de querer reinventar-se a si mesmo, buscando fazer com que a forma, e não o conteúdo, incorpore as rupturas e as descontinuidades da condição pós-moderna. “Por que não fazer Shakespeare?”, ele me perguntava inconformado. “Por que não reaproveitar os bons e velhos clássicos?”. Eu ouvia essas perguntas todas e pensava, deixava-as ecoar e ressonar na minha cabeça – tentava ver chegarem as possíveis respostas.
Honestamente não lembro o que respondi, se é que respondi alguma coisa. Provável que tenha dito alguma amenidade, só para constar audiência – porque não me lembro de termos entrado em nenhuma polêmica ou discussão mais elaborada sobre o tema. Mas ontem à noite, após assistir à peça “Dinossauros”, do argentino Santiago Serrano, uma possível resposta ao meu amigo me veio à cabeça.
A peça reúne, sob a direção de Guilherme Reis, dois grandes atores brasilienses: Carmen Moretzon e Murilo Grossi. Num palco bem pequeno, sentados num banco de praça e sob um fundo azul, os dois desvelam um texto suave e divertido, um diálogo que constrói sutilmente uma relação de intimidade das personagens entre si e com o público. Opta-se pelo simples, pelo essencial: bom texto, bons atores. Cria-se a atmosfera: o público está no teatro, não há dúvidas, e é nesse espaço mágico, de suspensão momentânea, em que permanece durante os 50 minutos de peça. E funciona.
A desconstrução pós-moderna não deixa de estar presente, mas está dentro de cada personagem, dentro de cada história, de cada discurso. As angústias, as crises, as irrecuperáveis quedas, a tensão dos tempos e das gerações, a convivência desencontrada de cada um de nós, anjos caídos que somos, com cada nova época que surge.
Saí de lá comovida. Pela história, pela experiência teatral revivida e pela percepção de que o teatro se renova e segue muito vivo, de que não precisa ser ou Shakespeare ou Gerald Thomas para ser bom, para provocar, para inovar e emocionar. Que Shakespeare tenha inventado o humano eu até concedo – e que algum experimentalismo nas formas seja revigorante e necessário também. Mas entre esses dois extremos há certamente um mundo de outros teatros possíveis.
Nina Madsen
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Festival Internacional de Rio Preto
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JORNAL "HOJE EM DIA", Belo Horizonte, 22/07/2006 Bons atores sobressaem em ‘Dinossauros‘
Miguel Anunciação*
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Críticas: Kil Abreu | "Dinossauros" | 24/7/2006
"Dinossauros"
Kil Abreu – de São Paulo: Pesquisador de teatro, crítico, jornalista, compõe a banca de jurados do Prêmio Shell e da APCA, e participa da curadoria do Festival de Teatro de Curitiba
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Críticas: Edelcio Mostaço | "Dinossauros" | 23/7/2006
"Dinossauros"
Edélcio Mostaço – Florianópolis: Crítico teatral, ensaísta, professor formado em Direção Teatral e Crítica pela USP com vários trabalhos publicados, participante ativo de festivais de teatro no Brasil e exterior.
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Beth
Néspoli
Se a arte é
suspensão de rotina, festivais de teatro são eventos que interferem
sobre a rotina de ir ao teatro. Mobilizado, tendo de fazer escolhas
entre programação vasta e em tempo concentrado, o espectador espera ser
surpreendido. O Festival Internacional de Teatro de São José do Rio
Preto, cuja 6ª edição terminou no domingo, talvez seja a mostra de artes
cênicas brasileira que mais consciente e criticamente explora essa
atmosfera cultural instaurada. Realizado pela prefeitura de Rio Preto e pelo Sesc São Paulo, com patrocínio da Petrobrás, o FIT Rio Preto mais uma vez mostrou que surgiu com fôlego para permanecer e inteligência para fazer diferença. A repórter viajou a convite da organização do Festival
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Festival Internacional de Londrinas
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Folha
de Londrina
ARTES CÊNICAS - Teatro em estado puro Ao empilhar sobre o trabalho do
ator a sensibilidade de um texto contemporâneo argentino, a peça ''Dinossauros'',
estréia de hoje no FILO, às 20 horas, no Teatro Crystal, não enrola para
dizer que até na solidão há um fio de poesia. |
Festival de Teatro Candango
Rio de Janeiro- 2006
TEATRO:
ESPECIAL
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1º Festival Brasilero de Teatro de Itajaí
Dinossauros
Ao iniciar o espetáculo Dinossauros, não tive como não associar a imagem de abertura da montagem – aquele fundo de madrugada azulada, o perfil da atriz sentada no grande banco, a percepção de que estávamos num exterior – com a imagem inicial de uma outra peça, A história do zôo de Edward Albee. Lembro disso porque as imagens poéticas oriundas ou associadas aos textos além de engravidarem uma emoção ou estabelecerem um pensamento em função da cena, elas constituem a memória do próprio teatro: dois homens sentados à beira de um caminho diante de uma árvore; uma mulher no alto de um balcão e seu amante no chão a falar-lhe; um homem sentado na cadeira do dentista; uma mulher enterrada até o pescoço; uma jovem a tocar o seu piano; duas irmãs que amam o mesmo homem; entre outras tantas lembranças que nem sempre estão, é verdade, no início da encenação, mas ficam alojadas em nossos bancos de memória depois do espetáculo ou após a leitura do texto. A particular beleza do texto de Santiago Serrano está no estabelecimento de uma progressão simétrica dos comportamentos apresentados. Como se fossem o botão de uma flor que pouco a pouco vão, mutuamente, se abrindo um para o outro. Cada personagem vai deixando para trás seu estado anterior, fechado e recolhido sobre si mesmo, para se abrir na direção do outro, reconhecendo a sua solidão na solidão do outro. Dando provas de que a humanidade ainda é possível. E conseqüentemente partilhando a noite, o banco, a comida, o vinho, a música, e a lembrança do que foram quando crianças. O texto manifesta que se a estupidez humana é geral e ostensiva, a generosidade e a bondade estão nestes pequenos gestos particulares entre o acolher e ser acolhido, o ouvir e ser ouvido. Silvina e Nicolas graças aos seus comportamentos e seus princípios de solidariedade humana são como dinossauros em extinção, metáfora do título da peça somente revelada no final, à leitura da notícia do jornal. A proposta de direção que Guilherme Reis aplica ao texto, com sua direção sensível à escuta da palavra do autor, pavimenta o caminho para atuação serena dos atores. A direção potencializa a relação do casal de desconhecidos emoldurando-a sob um foco de luz que tem como suporte, ao fundo, este azul da madrugada com um leve toque cinematográfico. A partir deste recorte visual, a direção se detém em trabalhar nos pequenos detalhes deste encontro inusitado: a respiração, o olhar, o gesto, o tempo. O casal de atores, Carmem Moretzosohn e Murilo Grossi, explora com um equilíbrio muito delicado as nuanças destes comportamentos impressos no par Silvina e Nicolas. A dificuldade de dar credibilidade à história de cada um desses dois solitários é facilmente superada a partir dos jogos infantis. Os atores nos mostram por meio de uma atuação emocionada que Silvina e Nicolas são estes adultos de hoje por conta da criança que foram no passado. O jogo dos atores é inteligentemente alimentado por este vai e vem entre a espontaneidade da criança e a dura couraça do adulto. Reféns da criança que foram, Silvina e Nicolas não podiam ser adultos diferentes do que são mostrados em cena. E é daí que emana, da dupla de atores, este estado de comoção permanente do espetáculo que se mantém vivo do início ao fim da encenação.
Walter Lima Torres
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